
É difícil defender o beisebol. As partidas longas e sem muito emoção fadaram esse esporte a ser descrito como “chato”. Explicar as regras também não ajuda: a partida é dividida em nove entradas (innings) em que o objetivo de quem ataca é marcar pontos e quem defende, é fazer três eliminações (outs). Os pontos são chamados de corridas (runs) e existe a zona de strike que marca a contagem que cada rebatedor enfrenta. Quem joga na defesa usa nove jogadores, quem ataca manda um jogador por vez no bastão.
É difícil vender o beisebol. Como encaixar um produto que em média leva três horas para acabar? Isso se não for para prorrogação. A prova são os piores índices de audiência da história, registradas pelas emissoras de televisão na última temporada. O jogo seis da final entre Philadelphia e Houston teve um pico de 12,5 milhões de telespectadores, menor índice na história de um jogo decisivo transmitido em horário nobre nos Estados Unidos. Mas embora tenha o adjetivo “chato” e afins grudado ao nome, o chamado “passatempo americano” está longe de passar por uma crise.
A última Copa Mundial rendeu em torno de U$11 bilhões de dólares aos organizadores, e, pelo menos como evento presencial, nenhum outro esporte chega perto do volume de partidas do beisebol – são no mínimo 81 jogos em casa para cada uma das 30 equipes da liga, que tem uma média de público de 26 mil pessoas (mais do que a capacidade das arenas de basquete da NBA). Beisebol é complexo de fato, mas assim como a primeira parte do livro O Senhor dos Anéis, depois de muita explicação logo se descobre a ação.
O problema é que a liga não poderia ficar dependente de quem vai aos chamados balparks. E pensando em dinamizar o esporte e deixa-lo menos arrastado, a Major League Baseball implementou a partir da atual temporada, mudanças que considera essencial para o próprio futuro.
As mudanças no beisebol
“Três grandes mudanças para que o jogo fique mais nítido e emocionante”, essa foi a justificativa de Rob Manfred, ao explicar as alterações do centenário beisebol. O comissário que completa nove anos como representante da Major League Baseball, tomou a frente nas mudanças para a temporada de 2023. A primeira é que arremessadores agora tem 15 segundos para arremessar quando as bases estiverem vazias e 20 segundos quando houver alguém ocupando uma das bases.
Também é obrigatório que o rebatedor esteja pronto para rebater quando faltar no mínimo oito segundos no cronômetro. Caso arremessador ou rebatedor não cumpram a regra serão punidos na contagem de bolas e strikes. A segunda grande mudança é o banimento do posicionamento defensivo denominado Shift. Agora os jogadores que ocupam a parte baixa do campo (chamados de infielders) devem estar com os pés na terra e divididos na esquerda e na direita da segunda base. É difícil de entender mas a consequência são mais rebatidas e menos eliminações.
A última das três grandes mudanças veio com o intuito de evitar colisões entre os jogadores e diminuir um pouco o espaço no campo. As três bases que circundam o diamante aumentaram de 38 para 45 centímetros quadrados cada, reduzindo a distância entre a primeira e a segunda e entre a segunda e a terceira em 12 centímetros. Repete-se: pode parecer pouco mas faz uma baita diferença.
Tudo isso foi feito para deixar o jogo mais rápido e, por consequência, mais curto. Em 2022 a média de tempo das partidas foi de três horas e onze minutos. Na estreia da temporada 2023, a média dos 15 jogos foi de duas horas e quarenta e cinco minutos. A partida mais curta teve um tempo total absurdo de duas horas e catorze minutos, apenas meia hora mais do que uma partida de futebol (isso se não considerarmos os acréscimos e agora as intermináveis intervenções do VAR).
Esse é o produto no qual a Major League Baseball tem buscado desenvolver na esperança de criar um jogo com mais rebatidas, mais bases roubadas e mais chances dos jogadores mostrarem sua habilidade atlética, especialmente na defesa. É um produto feito para os fãs que vão aos estádios e que vão poder chegar mais cedo em casa, bem como para aqueles que irão assistir a distância. São mudanças para tirar o que o jogo tem de pior, que é a enrolação e a demora, mas sem mexer no que o esporte centenário tem de melhor.
Mudanças em outros esportes
A Copa do Mundo de futebol de 1990 entrou para a história pela menor média de gols já registrada no campeonato – 2,21 por jogo. O recorde negativo acendeu o sinal amarelo na FIFA e em 1992 uma mudança contra as equipes defensivas foi anunciada: a partir daquele ano os goleiros não poderiam mais receber com as mãos recuos feitos com os pés pelos jogadores do próprio time. Trinta anos depois, veio uma nova mudança com a tecnologia usada na linha do gol, e que só ganhou força depois que a Inglaterra teve um gol não validado na Copa do Mundo de 2010.
No vôlei, a grande mudança veio em 1999 com a nova forma de contagem de pontos. Os sets antes de 15 passaram para 25 pontos, e a chamada vantagem, que obrigava uma equipe a marcar duas vezes seguidas para contar um ponto, foi extinta. Esta foi a cartada da Federação Internacional de Volei (FIVB) para reduzir a duração das partidas, e o argumento é simples como o do beisebol: pela longa duração das partidas era difícil vender o vôlei para a televisão.
Já no caso do basquete a criação da linha de três pontos em 1984 não surtiu um efeito imediato e demorou quase quarenta anos para a NBA ser inundada por jogadores especialistas em arremessar de longa distância. Hoje até mesmo quem joga de pivô é visto arremessando da linha de três, fato que tirou um pouco a mística de que para jogar basquete era necessário em primeiro lugar altura.
Técnicos e atletas são obrigados a se adaptar aos novos tempos de cada esporte. E com a explosão de streamings e meios de transmissão de qualquer tipo de partida, seja xadrez ou golf, todas a federações responsáveis querem um fatia do bolo. O foco é adaptar o produto para entreter também quem fica em casa, seja no futebol, no vôlei ou mais recentemente, no beisebol.