
A história do campeonato que marca os 75 anos da NBA será concluída sem o seu principal personagem. A partir de hoje (12), com o início do torneio play-in, começamos a descobrir quem será o campeão da temporada 2021-22, sendo que já sabemos que o Los Angeles Lakers de Lebron James não está entre os candidatos. Aos 37 anos, o rei ainda está em quadra marcando 30 pontos por jogo, mas por quanto tempo? E será que ainda pelos lakers?
Os caminhos da carreira de Lebron interferem diretamente nos caminhos da liga. Afinal, toda empresa precisa de uma marca registrada. Inclusive, no jogo das estrelas deste ano, 75 produtos/jogadores criados pela NBA foram destacados como os melhores da história. Um evento que alimentou o eterno debate sobre os velhos e os novos tempos do basquete.
No centro da arena ficou o questionamento: depois que Lebron James se aposentar, qual será o próximo jogador a ser reconhecido como detentor do trono da NBA? E como será a liga quando chegar aos cem anos? Será que vão criar uma cesta de cinco pontos? Não sei, mas para prever o futuro é preciso estudar o passado e ver os fatos recentes que dão o molho para essa falta de protagonismo além do rei.
Passado recente
A vitória do Toronto Raptors nas finais de 2019 quebrou a hegemonia do Golden Satate Warriors e meio que zerou as coisas na NBA. Kawhi Leonard saiu de Toronto e formou uma dupla que ainda não decolou com Paul George no Los Angeles Clippers. Kevin Durant se juntou com Kyrie Irving no Brooklyn Nets e também não chegou perto de vencer. Os Warriors, dominantes até então, ficaram mais de uma temporada de molho em razão das contusões de Klay Thompson e posteriormente Stephen Curry.
As mudanças ocorridas entre 2019 e 2020 pareciam que pavimentariam os novos caminhos da liga. Mas claro que ninguém imaginava que as finais de 2020 seriam disputadas sem torcida, em um ginásio desconhecido dentro um complexo montado no meio da Disney. Este foi o resultado da pandemia de Covid-19 para NBA, obrigada a se adaptar ao que foi apelidado de “bolha”.
Quando a temporada mais longa da história finalmente chegou ao fim o Los Angeles Lakers eram os novos campeões e sem nenhum torcedor para testemunhar o feito, Lebron James conquistou o quarto título da carreira no que parecia significar um aviso: o rei, recém chegado aos Lakers, puxaria o bonde da nova geração. Mas fora da bolha o Lakers caiu na primeira fase do ano passado e esse ano as coisas foram ainda piores, mesmo com Lebron inspirado em uma temporada que o credenciou a ser o MVP.
A falta de entrosamento do time era notória e a a equipe comandada pelo agora ex-técnico, Frank Vogel, não conseguiu ficar nem entre as dez melhores da conferência oeste.. Anthony Davis passou um bom tempo machucado, Russell Westbrook (4º maior salário da liga) foi apelidado de “Westbrick” tamanha era a displicência e os tijolos arremessados pelo armador, e Carmelo Anthony que há tempos não é um fator de desequilíbrio para algum time.
Os três estavam na lista de 75 melhores de todos os tempos e os Lakers devem enfrentar um turbulento período de reformulação. Isso quer dizer que: se ainda quer ter chances de títulos, talvez a primeira coisa que Lebron James tenha que pensar é se deve ou não trocar de time, afinal uma andorinha só não faz verão. Mas isso é assunto que órbita ao redor das arenas, nas quadras é hora de ver quem vai ser campeão.
Presente atualíssimo
Os candidatos da atual temporada foram apresentados ao longo de 82 jogos (primeira vez desde a bolha), e aqueles que melhor se credenciaram foram o Phoenix Suns na conferência oeste (64 vitórias) atual vice campeão, e o Miami Heat pela leste (53 vitórias). Além deles podemos citar no leste, o atual campeão Milwaukee Bucks do Greek Freak, a eterna promessa do Boston Celtics e o Philadelphia de Joel Embid e agora James Harden.
No Oeste, além do Suns, o Memphis Grizzlies da nova joia Ja Morant, o Golden State Warriors que conta com a volta dos splash brothers e o Dallas Mavericks de Luka Doncic são boas apostas. Todas essas equipes devem esperar o fim do “play-in” para entrar em quadra. O “mini torneio” começou com as vitórias dos Nets e dos Timberwolves. Mas isso não significa que os perdedores, Cleveland Cavaliers e o Los Angeles Clippers, estejam eliminados.
Ele funciona da seguinte forma: as equipes que terminaram entre a sétima e a décima posição de cada conferência concorrem as duas últimas vagas para os playoffs. O sétimo enfrenta o oitavo, e o nono o décimo colocado em dois jogos, sendo que aquele que está melhor ranqueado precisa vencer apenas uma partida. Quem vencer no primeiro confronto fica com a posição número 7.
O perdedor deste confronto enfrenta o vencedor da disputa entre o nono e o décimo colocado no mesmo formato. Em jogo estará a 8ª e última vaga da pós temporada. E vale destacar que algumas equipes até então credenciadas para disputar o título encontram-se exatamente na luta por estas duas últimas vagas. No leste o Brooklyn Nets não engrenou como o super time que se esperava e ficou no oitavo lugar. No oeste a situação foi um pouco diferente, e o Los Angeles Clippers passou pelas adversidades das lesões das principais estrelas e surpreendeu também com a oitava posição.
Tudo começa a ser decidido nos playoffs de fato, o raiz, a partir do dia 16 de abril. E quando terminados os jogos e soubermos o campeão podemos então voltar a prever o futuro.
Futuro incerto
Como todo e qualquer esporte, o basquete praticado na NBA mudou ao longo dos 75 anos de existência. O jogo já não gira mais em torno dos pivôs imponentes e lances normais de antigamente agora são faltas flagrantes. Mesmo que ainda empolguem a torcida as enterradas e ponte aéreas já não são mais grande armas ofensivas.
Essa é o tão buscado arremesso de três pontos, e nenhum jogador representa melhor essa mudança do que Stephen Curry. Também há o fato da globalização alcançada pela liga. Os Estados Unidos já não detém a hegemonia incontestável do basquete mundial e muitas estrelas da NBA são estrangeiros como o grego Giannis Antentokoupo e o esloveno Luka Doncic.
Com todas as mudanças é normal que os nostálgicos da chamada “era de ouro” apareçam com o já conhecido discurso de que a NBA não é mais como antigamente e as estrelas de hoje não chegam perto dos bad boys do passado. Servem como argumentos dos nostálgicos o documentário The Last Dance sobre os Bulls de Michael Jordan, e mais recentemente a série da HBO Winning Time sobre os Lakers de Magic Johnson. Ambas com um enredo bem montado e que trazem uma NBA que já não existe mais de volta as telas.
A homenagem aos jogadores no all star game desta temporada também alimentou essa discussão. Cada jogador que era anunciado carregava uma história e junto vinham comentários como “esse jogava muito mais que qualquer um hoje”. Jogadores que nunca ganharam um título, como Allen Iverson, foram reverenciados pelas estáticas atingidas. Mas será que os números se sobrepõem aos títulos? Para os o fãs de Lebron sim, e por isso há tempo que ele já deveria ser reconhecido como o melhor jogador da história.
Em dezenove temporadas James ganhou quatro títulos e quatro vezes o prêmio de MVP. Foi selecionado para 18 jogos das estrelas e certamente foi o jogador mais dominante da NBA na última década. Na atual temporada os números são simplesmente ridículos com média de 30 pontos 8 rebotes e seis assistências por jogo. Mas ainda existe uma aura, muito alimentada por The Last Dance, em torno das seis conquistas de Michael Jordan que dificilmente colocarão um ponto final na discussão. Talvez quando o jogador dos Lakers se aposentar e lançar o próprio documentário as coisas se igualem. Mas isso é outra questão.
O que importa é que o 75º ano da NBA marca um passo à frente na evolução da liga, ao mesmo tempo que significa que o fim de um reinado está mais perto. Enquanto aguardamos para sabermos quem será o campeão de 2022, também torcemos que no ano que vem Lebron siga fazendo história, de preferência nos playoffs. Embora saibamos que o fim se aproxima, a cada jogo que assistimos de James somos compelidos a bradar em voz alta – vida longa ao rei.
Um comentário em “Sem Lebron James, playoffs da NBA começam dia 16 de abril”