
E em pleno 2020 os Rolling Stones acertaram de novo. Prestes a completar 60 anos, a banda conseguiu chegar ao topo das paradas. Tudo bem, podemos dizer que eles contaram com uma certa ajuda do acaso no lançamento de “Living in a Ghost Town”, a primeira inédita em oito anos. Escrita em 2019 durante uma jam session de Mick Jagger e Keith Richards, a letra fala sobre um lugar que de uma hora para outra perde a vida. Mais ou menos como uma cidade fantasma.
Life was so beautiful
Then we all got locked down
Feel like a ghost
Living in a ghost town, yeah
O fator do destino colocou a letra em sintonia com a realidade, e o clipe com as ruas desertas de Londres, Osaka e outras cidades já soma mais de 12 milhões de visualizações no Youtube. O resultado foi o primeiro lugar no iTunes no dia seguinte ao lançamento. “Ela não foi escrita para o que vivemos agora, mas é uma daquelas coisas estranhas que acontecem”, disse Jagger.
A gênese da canção segue a formula apresentada no disco de covers “Blue & Lonesome” (2016) com guitarra e gaita, acrescentando desta vez um coro constante. Com o lançamento, os Rolling Stones conseguiram desbancar artistas como Drake, Justin Bieber e Travis Scott. Por alguns dias, é claro. Mas o feito merece reverência, e era apenas o início de um ano de produção nos mais variados meios.
Idosos do grupo de risco
Enganou-se quem esperava que os quatro senhores de mais de 70 anos ficassem parados em suas respectivas mansões durante o lockdown. Os primeiros movimentos vieram quatro dias antes do lançamento de “Living in a Ghost Town”, na live One World Together at Home. Em casas e telas diferentes, os integrantes tocaram “You Can’t Always Get What You Want” para homenagear os profissionais de saúde ao redor do mundo. O destaque ficou para a falsa bateria feita de caixas de Charlie Watts.
Impossibilitados de irem para os palcos, a estratégia foi colocar os olhos no acervo em busca de relíquias esquecidas. Foi o caso de “Scarlet”, gravada em 1973 mas até então desconhecida, a música conta com a participação de Jimmy Page e fez parte da reedição do álbum “Goats Head Soup”. O lançamento colocou os Stones em primeiro lugar nas paradas britânicas, tornando-se a primeira banda a atingir tal marca em seis décadas diferentes.
Nos aplicativos de música foram disponibilizados dois shows antigos e inéditos e no Youtube mais de 30 novos vídeos de apresentações e entrevistas adicionados no canal oficial da banda. E ainda que fosse pouco, os Rolling Stones saíram do mundo virtual e inauguraram a primeira loja oficial no final do ano. Agora, quem for até Carnaby Street número nove em Londres encontrará roupas, souvenires e vários pontos para tirar uma foto.
Um olho no palco outro no marketing
Oficialmente formada em 1962, a banda foi se moldando ao longo das décadas. Tratados como o oposto dos Beatles, eles souberam explorar ao máximo os personagens criados. Um exemplo do olho da banda na própria imagem é a criação do logo próprio na década de 1970 – a notável língua vermelha que virou estampa de camisetas e algumas tatuagens questionáveis. Um década depois foi a vez de vender o próprio show pela TV através de um serviço chamado de Pay Per View, desconhecido até então.
O gerenciamento da imagem fora dos palcos deu aos Rolling Stones uma onipresença social não só nos ouvidos dos fãs, mas também nas vitrines de moda e das redes sociais. E isso que eles são taxados de ultrapassados há tempos e o público já não vê em Mick Jagger a figura anarquista de antes. Afinal, não se pode ter mansões na Inglaterra, apartamentos em Manhattan e continuar dizendo que é contra o sistema. E isso não tem problema. Assim como os punks, os Stones aparentavam se entediar facilmente com rótulos.
Ao longo dos quase 60 anos de existência, o que o integrantes mais fizeram foi conviver com os diversos mitos criados. Desde o possível caso entre o vocalista e David Bowie. Até a impossível troca de sangue anual do guitarrista para continuar vivo. No cinema, Mick Jagger já estrelou mais de uma dúzia de filmes, Keith Richards tem um documentário na Netflix. E a banda já foi tema de filmes dirigidos por Jean-Luc Godard e Martin Scorsese.
Hoje, a grande fama que Jagger carrega é a de ser pé frio em estádios de futebol, enquanto que Richards da dica de uma vida saudável em entrevistas de manhã cedo. Mesmo com mais de 25 discos lançados e 65 milhões vendidos, o processo de composição da banda é continuo. Além de “Living in a Ghost Town”, Richards afirmou que a banda já possui em torno de cinco a seis músicas para um novo álbum. “Obviamente agora nos não temos mais nada para fazer além de escrever músicas, certo?”.
Por este motivo que devemos pensar sobre também o mundo que vamos deixar para os Rolling Stones. Até porque, se pedras rolantes não criam limo, essas estão fadas a continuar se movimentando.
esta canção mostra apenas uma coisa. Os Stones sempre foram e continuam sendo visionários. vida longa a Mick e seis companheiros.
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